segunda-feira, 29 de abril de 2013

Um ombro em que pudesse confiar


Iago acabará de sair da minha casa, havíamos brigado, não demonstrei fraqueza na sua frente, não daria esse gostinho a ele, mas precisava de algum ombro para desabar, foi então que reparei que o visor do meu celular estava piscando. Mais uma vez era Caio, com suas insistentes mensagens, fazia um bom tempo que eu não me dava o trabalho de lhe responder, não falava com ele desde o dia em que pus um ponto final no nosso relacionamento extremamente complicado, eu sabia que todos os dias ele me seguia, mas eu precisava tanto de alguém para desabafas, e apesar de nossa briga e de odiá-lo, sentia que poderia confiar. Peguei meu Iphone e respondi: ''Caio, venha até a minha casa'', não houve resposta, entretanto 5 minutos depois ouvi a buzina de seu carro.

Trajava roupas de dormir, uma camisola branca com pantufas rosas ( Vergonhoso, eu sei, mas sim, eu uso pantufas de pelúcia rosa), entrei no carro vermelho, Caio começou a dirigir, não dissemos uma unica palavra, até que ele estacionou em algum lugar qualquer. 

- O que houve pra você ceder e me chamar?- Aquele par de olhos escuros me encaravam.

- Precisava de um ombro em que pudesse confiar- Isso era apenas o que eu conseguia dizer.

- Não tem medo que eu te ataque, Dandara? Afinal foi uma agressão que eu te fiz que fez com que você não 
olhasse mais na minha cara. - era perceptível o desdem na voz dele.

- Não, não tenho medo. Não tem ninguém aqui que possa lhe fazer ciumes e nem lhe dar motivos para usar violência contra mim.

Abracei-o  e contei toda a briga, seus olhos sorriam com a esperança de que eu deixasse Iago, eu sabia disso. Por fim contei o quão estava magoada com a atitude que havia levado ao meu desentendimento com Iago, foi então que ele disse, mudando de assunto:

-Por que vc resolveu cantar a nossa musica pra ele?

-Como você sabe disse?- Questionei

-Sua senha do Facebook é patética  logo diariamente como se fosse você para saber como anda a sua vida- Era tão displicente a sua forma de falar que por um momento esqueci da obsessão que ele nutria por mim.

-Qual seria então uma senha boa o suficiente para você não descobrir? - Perguntei 

- ''euamocaionanine'', pode ter certeza, essa eu nunca descobriria - Rimos alguns instantes, e reinou o silencio sobre nós dois.

Era possível ouvir apenas o ruido da chuva batendo no carro, tal como os automóveis que passavam por nós. Pus-me a refletir sobre  que  Caio inicialmente me perguntará, ele estava certo, aquela era realmente a nossa musica. A mão dele pausava sobre a marcha do carro, apenas por mania de deixa-la repousada ali quando  entrava no carro; coloquei a minha mão sobre a dele e num sussurro disse:

-É... realmente você tem razão, é a nossa musica- Caio não se deu o trabalho de me olhar , então eu cantarolei chamando a sua atenção- Quando a gente conversa,  contando casos, besteiras. Tanta coisa em comum, deixando escapar segredos. Mas eu não sei em que hora dizer, me dá um medo..... - Parei  e fixei os meus olhos sobre ele.

 -Mas eu preciso dizer que te amo. Te ganhar ou perder sem enganos... Eu preciso dizer que te amo, tanto- Ele me abraçou, eu coloquei a minha cabeça na curva do seu pescoço, e senti o calor do seu corpo.

-Até o tempo passa arrastado, só pra eu ficar do seu lado- Minha voz saia tremula, não conseguia entender o por que estava dizendo aquelas coisas e dando esperança a ele.

- Você me chora dores de outro amor, se abre e acaba comigo- Ele se afastou  suficiente para que pudesse encarar os meus olhos, que sem eu entender o por que estavam marejados.- Nessa novela eu não quer ser teu amigo... É que eu.. - Nesse momento eu o interrompi e disse com tanta convicção que nem parecia ser eu.

-É que eu preciso dizer que te amo, te ganhar ou perder sem enganos. Eu só preciso dizer que te amo, tanto.- Não cantarolamos o resto da musica, pois eu , naquele momento, disse algum que nunca tinha dito em tantos anos em que passamos juntos.

-Volta para mim. - Seus olhos suplicavam

- Eu te amo, mas não da maneira que você quer. Também sou incapaz de perdoar o que você me fez.  Caio você é alguém que eu confio, e não importa quantos relacionamentos eu tenha, em nenhum eu vou confiar como eu confio em você.

- E isso que te faz entrar no carro de alguém que te segue desde que terminou o relacionamento... - Ele falou com desdem, eu não respondi. - Por que não demos certo? - Caio me pediu tristonho.

- Como poderia dar certo algo que começou errado?

 Ficamos determinado tempo em silencio, abraçados, lagrimas quentes corriam pelo meu rosto; sentia tanta falta de ter Caio por perto, que só a lembrança de não poder voltar para os braços dele no próximo problema me doía.

- Me leva de volta pra casa- pedi, e assim ele fez. 

Ao chegar na minha porta ele me encarou e perguntou se eu pelo menos tinha perdoado-o e se voltamos a ser amigos.

-Não.- Disse seca- Ainda te odeio. Te amo, mas ainda te odeio.

-Te amo tanto que nem sei, Dandara.

Ele sorriu ao dizer meu nome, ligou o carro e partiu.

Na manhã seguinte eu acordei  cansada.  Arrumei-me  de qualquer maneira e sai para a faculdade.  Quando abri o portão  chovia forte, abri meu guarda chuva e fui para a rua. Quando olhei para os lados vi o carro vermelho de Caio parado na esquia. Fiz sinal para ele, e no instante seguinte ele chegou até mim.

- Me dá uma carona?- Perguntei sorrindo marota.

-Fizemos as pazes?- Questionou esperançoso.

- Como lhe disse nessa madrugada: Não, mas já que você está na minha esquina as 5:20 da manha só pra me ver e vive a me seguir não custa nada a me dar uma carona, não?

Caio riu, destravou a porta do carro para que eu entrasse. Estava feliz por ele está ali por mim, mesmo que seja me seguindo como um maniaco apaixonado. No fim das contas, por mais que ele doentemente obcecado por mim, eu sabia que com ele eu poderia contar nos momentos mais difíceis.

Nenhum comentário:

Postar um comentário