quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Com que pernas eu devo seguir?

Sei que perdemos a noção da hora, mas estávamos arrumando nossas malas, deixando aquele apartamento em que vivemos os momentos mais lindo  no nossos 11 anos de casamento.  Juntos estávamos jogando muitas coisas fora, que lembravam o nosso passado, tantas recordações,  fotos nas quais sorriamos abraçados. Definitivamente não sei como vou embora.  Não sei como vou deixa-lo, 11 anos não são 11 dias.  Ele diz que eu não percebi que o nosso casamento está acabado, mas como eu posso ver uma coisa que não existe?
Quando o conheci eu soube que ele era o homem da minha vida, depois de dois anos amando-o em silencio ele me beijou, nesse momento que dei para sonhar, fazer meus desvarios,  unicamente pelo fato dele ser o meu príncipe encantado. Quando dei por mim  já tinha rompido com o mundo, e começado a viver para esse amor, para o meu amor. Mudei-me para uma ilha e queimei o navio que me possibilitaria voltar.  Por isso não consigo me imaginar indo embora.
Me doí arrumar as malas para partir. Fico dilacerada ao ver que o paletó dele esta enlaçando o meu vestido e que meu sapato ainda pisa o dele, lagrimas brotam nos meu olhos, pois me recordo  de quando dançávamos, e eu  tomada em seus braços,  pisando nos seus pés para roubar-lhe um beijo.  Quando chegávamos em casa amávamos como dois pagãos, ainda consigo sentir as mãos dele em meus seios, nossos corpos colados, minha boca passeando por toda a sua pele branca de pelos morenos.  Ah, como éramos obscenos no nosso ato de amar.
Ofegávamos, quando possuíamos uma ao outro, na desordem das noites o mundo era eterno  e quando acabávamos eu me recostava sobre seu peito másculo e nos entrelaçávamos,  chegando a confundir as nossas penas. E é com essas pernas com que eu devo seguir, mas não sei se consigo fazer.
Em mais uma inútil tentativa digo para ele não ir, ele me pede para deixar de me fazer de tonta, grito que durante esses  11 anos  dei meus olhos, minha vida pra ele tomar conta, e peço que  ele não parta e não me deixe partir.  Só que ele não me deu ouvidos,  partiu sem olhar pra trás.
 
Inspirado na musica ‘’Eu te amo’’ do compositor Chico Buarque de Yolanda
 

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